domingo, 10 de fevereiro de 2013

Vida em Júpiter, por Carl Sagan.


No documentário Cosmos, Carl Sagan especula como seriam formas de vida em Júpiter, segue trecho do seu livro de mesmo nome:

"Em um planeta gasoso gigantesco como Júpiter, com uma atmosfera rica em hidrogênio, hélio, metano, água e amônia, não há uma superfície sólida acessível, mas sim uma atmosfera nebulosa e mais densa na qual as moléculas orgânicas podem estar caindo dos céus como o maná, como os produtos de nossas experiências laboratoriais. Entretanto, há um obstáculo característico à vida neste planeta: a atmosfera é turbulenta e a sua camada mais profunda muito quente. Um organismo deve-se cuidar para não ser carregado para baixo e frígido.
Para mostrar que a vida não é impossível em um planeta tão diferente, meu amigo de Cornell, E. E. Salpeter e eu fizemos alguns cálculos. Naturalmente não podíamos saber, com precisão, como seria a vida num local como aquele, mas queríamos verificar se, dentro das leis de física e química, um mundo deste tipo teria possibilidade de ser habitado. Um modo de se formar uma vida nestas condições é re-produzir antes de ser cozinhado e esperar que um meio de transporte carregue parte de sua prole para as camadas mais altas e mais frias da atmosfera. Estes organismos devem ser muito pequenos. Nós os chamamos de perfuradores, mas também podem ser flutuadores, um grande balão de hidrogênio bombeando hélio e os gases mais pesados para fora do seu interior, e deixando somente o hidrogênio; ou um balão de ar quente flutuando, mantendo seu interior aquecido, utilizando a energia adquirida através do alimento ingerido. Como os familiares balões terrestres, quanto mais pesado estiver um flutuador, maior a força de flutuação que o levará de volta às regiões mais altas, mais frias e mais seguras da atmosfera. Um flutuador poderá se alimentar de moléculas orgânicas pré-formadas ou fazer as suas próprias da luz solar e do ar, de modo semelhante às plantas na Terra. Até certo ponto, quanto maior for um flutuador, mais eficiente ele será. Salpeter e eu imaginamos flutuadores com quilômetros de extensão, muito maiores do que as maiores baleias que já existiram, seres com o tamanho de cidades.
Os flutuadores podem se impelir pela atmosfera planetária através de rajadas de gás, como um jato de guerra ou um foguete. Podemos imaginá-los arrumados em grandes rebanhos estendendo-se até onde a vista alcança, com padrões em sua pele e uma camuflagem adaptável, subentendendo-se que eles também possam ter problemas, pois, pelo menos, há um outro nicho ecológico em um ambiente como este a caça. Os caçadores são rápidos e usam de estratégia. Comem os flutuadores tanto pelas suas moléculas orgânicas quanto pelo seu estoque de hidrogênio puro. Escavadores ocos podem ter evoluído para os primeiros flutuadores e flutuadores autopropulsores nos primeiros caçadores. Não podem haver muitos caçadores, porque se consumirem todos os flutuadores, os próprios caçadores perecerão.
A física e a química permitem tais formas de vida. A arte os adota com um certo encanto. Entretanto, a natureza não é obrigada a seguir as nossas especulações. Mas se existem bilhões de mundos inabitados na Via-láctea, talvez haja alguns povoados por escavadores, flutuadores e caçadores que a nossa imaginação, temperada pelas leis de física e química, gerou."

Um exercício de imaginação muito criativo, "Ballooning Animals" são um tema recorrente na biologia especulativa, com certeza serão assunto de futuros posts.


Fonte: Cosmos, Carl Sagan.

Um comentário:

  1. Acabei de ver esse trecho no documentário e comecei a pesquisar sobre, simplesmente fascinante !!
    Fascinante por ser ao mesmo tempo possível e surreal

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